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quarta-feira, 5 de setembro de 2007

puff...

Não compreendo porque é que existe tanta gente ignorante, à uns anos atrás, onde a informação era escassa e não havia abertura para falar dos assuntos ainda se percebia, mas agora, que existe informação, existe diálogo, existe a Internet com milhares de informações sobre tudo e mais alguma coisa, ainda há gente que pura e simplesmente parou no tempo e permanece na mais profunda burrice.
A homossexualidade é algo que existe há séculos e as pessoas ainda não se deram ao trabalho de olhar para ela com olhos de ver. São apenas duas pessoas que se amam, como qualquer outra, só que o alvo do seu amor é do mesmo sexo…e dai? Qual é o problema? O que é que é assim tão mau nisso? Porque é que as pessoas gozam com algo tão natural como é o acto de amar alguém?...
Acho que é porque as pessoas são más e mesquinhas por natureza, sentem-se bem a humilhar e a rebaixar as outras pessoas, seja porque estão numa posição superior ou porque simplesmente acham que podem…pufff…gente…
Todos somos alvo de chacota uma ou outra vez na nossa vida, ou usamos óculos, ou aparelho, somos demasiado inteligentes ou demasiado burros, tímidos ou palhaços, temos dentes grandes ou pés pequenos, tudo é motivo para gozar.
Na homossexualidade as coisas tomam proporções mais críticas porque o gozo chega ao extremo das agressões. Como é que situações destas são possíveis hoje em dia? Onde está o cumprimento da lei? Homofobia é crime mas as pessoas continuam a pratica-la diariamente, e não falo só de agressões físicas, falo de insultos verbais, aquelas pequenas coisas a que as pessoas vulgarmente chamam de “bocas”e piadas.
Nos meus anos de faculdade ouvi muitas piadas e muitas “bocas”, no inicio calava-me, sentia que se dissesse alguma coisa era pior porque as pessoas podiam desconfiar, ter certezas e ai as coisas saiam do meu controle, mas depois de um certo tempo fartei-me e comecei a responder, tive discussões imensas com a maioria dos meus colegas, até que quando se tocava no assunto em tom de gozo e ignorância só se ouvia “ pronto, já ninguém a segura, lá vai a defensora”…todos pensavam que eu falava para defender uma ex-colega minha que toda a gente pensava que era gay, mas não, como mais tarde vieram a descobrir, eu fazia-o por mim, porque achava que não era correcto a maneira de eles falarem sobre o assunto, tudo reside na maneira como se fazem e dizem as coisas, e quando eles abordavam o assunto de forma civilizada era tudo completamente diferente.
Tinha um colega meu, muito católico, com quem partilhava casa, que tudo o que tinha a ver com homossexualidade ele dizia que era anormal, aberração…tive várias discussões com ele, sempre que passava uma noticia na TV tínhamos longas trocas de ideias e as conversas acabavam sempre com ele a ficar sem argumentos e a dizer ” oh, pronto, vou-me embora”…posso dizer que foi uma das pessoas que mais nos apoiou quando lhe contamos, que sempre que via a minha linda fazia questão de parar, falar e que chegou ao pé de mim e disse que as ideias pré concebidas que tinha realmente nada tinham a ver com a realidade...é um querido.
Quanto ao resto dos meus colegas, bem, posso dizer que até dentro de exames arranjavam qualquer coisa para poder gozar (e lá está o meu exame de apicultura a voltar á minha mente, nem as abelhas escaparam a comentários estúpidos, enfim) mas havia outros, que faziam tudo valer a pena. A T. que nos tratava carinhosamente por fufinhas, apesar de nós detestarmos a palavra fufa, ela dava uma entoação tão querida, e perguntou se nos importávamos que ela nos tratasse assim.
Tudo isto para dizer que, existem pessoas que precisam estar em contacto com certas realidades para perceberem que as coisas não são como as pessoas ás vezes dizem, e que a maioria das coisas não passam de estereótipos criados por pessoas que, infelizmente, são demasiado ignorantes e close minded.
As pessoas tiram cursos, formam-se, fazem mestrados, doutoramentos, pensamos nós que saem um pouquinho mais informadas, mais mente aberta, mas não…vê-se pessoas que estão a frente de instituições que têm uma falta de ética e comportamentos completamente deploráveis para quem trabalha em contacto com outras pessoas, fazem juízos de valor e mandam bocas sem terem noção de que as pessoas que as rodeiam podem, de alguma maneira, relacionar-se com o assunto que elas estão degradantemente a falar. Não respondemos por medo de represálias, porque apesar de a lei dizer que é proibido, apesar de haver queixas as coisas nem sempre correm da maneira mais justa, infelizmente ainda é assim que as coisas acontecem hoje em dia.
Acho que devia haver mais bom senso e que as pessoas vissem que por elas não fazerem parte de algo, ou não partilharem o mesmo gosto, visão, ideia, orientação isso não lhes dá o direito de serem desagradáveis e muito menos de dar uma conotação negativa a algo que não conhecem nem se esforçam por conhecer. Se as pessoas pensassem antes de falar este mundo seria sem dúvida melhor.
E pronto, foi um desabafo…


6 comentários:

Unknown disse...

A sociedade não evolui devido à muita ignorancia que existe,muitas vezes em pessoas ditas "eruditas"...eu percebo cada palavra daquilo que escreves, sabes que já passei por situações bastante complicadas, que podiam ter consequencias mais graves.

Fica sempre bem dizer que o que importa é que os amigos e familia aceitem(temos sorte aqui), mas custa que mais ninguem nos veja, não poder dar a mão,fazer festinha, pa nao falar do beijinho.
Eu trabalho numa instituição cujo lema é integrar e não discriminar...lol...irónico...acho que é o local onde existe mais preconceito e discriminação a todos os niveis.

chega a ser frustrante travar esta batalha de lutar pela inclusão quando todos querem a exclusão.

Não posso fazer uso pleno dos meus direitos, valores, principios,nem sequer do direito de livre expressao, nem enquanto pessoa nem enquanto profissional!!

vou ficar-me por aqui para não entrar nos campos éticos e deontológicos...não foi para isto que me formei, mas é a nossa realidade...por isso que nunca vou olhar para este pais como meu...

Amu tu vida minha...desde sempre e para sempre

Anónimo disse...

Tudo isso é verdade, infelizmente... Mas eu acredito piamente que ainda vou viver o suficiente para ver alterações nesses comportamentos!

E depois, cabe também a nós contribuir para essa mudança... Deixar de ter medo é muito importante. Mas claro, isto é muito bonito dizer...mas fazer...

Pelo menos por aí já se assumiram na faculdade...eu não fui capaz...
Ainda no fim de semana passado fui com a minha Mysti a um cafe e estava lá um professor... Estragou tudo... já não houve mão dada nem proximidade que pudesse levantar suspeitas porque ele pode vir a ser júri de uma oral que tenho agora em setembro...
Além disso já várias vezes aconteceu de em aulas ter de ouvir bocas homofóbicas e ter de "engolir"... Inclusive deixei de andar com uma amiga da faculdade por medo que ela descobrisse algo pois sei que não reagiria nada bem...

E pior ainda foi quando fiz o estágio, ter de ouvir bocas homofóbicas de representantes de Portugal numa instituição europeia! Aí sim, fiquei chocada!!

OOoohh...quando me ponho a falar destas coisas começo logo a divagar... Já roubei demasiado do vosso espacinho!

*bj p/2*

Tear disse...

Roubas-te nada! És sempre bem vinda aqui, e podes escrever e divagar á vontade :)

A minha Tenshi tinha escrito um comentário bastante longo mas a ligação da net caiu e perdeu-se :\

Acho que medo existe sempre, nós temos sorte, tanto os amigos como os familiares aceitam bem e isso é meio caminho andado para as coisas serem mais serenas, mas a outros níveis o medo mantêm-se, como no emprego, ai continua a ser bastante difícil combater qualquer coisa que seja dita, principalmente quando as pessoas com quem trabalhas (como a minha tenshi) são bastante homofobicas, apesar de trabalharem e gerirem uma instituição que promove a igualdade e a lutam contra o preconceito.

A nível de faculdade, eu demorei tempo a assumir-me e as coisas foram mais naturais quando comecei a namorar com a Tenshi, estava sempre com ela, íamos a todo o lado juntas, trocávamos carinhos e as pessoas iam-se apercebendo, depois claro, ou perguntavam ou então falavam nas costas. Os nossos amigos sempre foram fantásticos, principalmente os da Tenshi, devo dizer que todos me acolheram de braços abertos.
Quanto a colegas sofri bastante com “bocas” e piadas, até dentro de exames o que me irritava porque não podia responder.
Mas quanto á faculdade e a nível de professores a Tenshi não tem razões de queixa, todos os professores envolvidos na sua defesa de licenciatura sabiam e não foi de modo algum penalizada por isso, o que é muito positivo.

A tenshi já sofreu homofobia num grau bastante mais grave, foi perseguida, já lhe vandalisaram o carro, entre outras coisas, enfim…são estas coisas que nos fazem ficar de pé atrás e nos “cortam” um pouco a nossa forma de estar, porque se o mundo fosse só os nossos amigos e as pessoas que nos aceitam como nós somos era tudo muito fácil, mas não é, e ainda nos deparamos com cenas bastante más, dai o medo ser difícil de gerir.

Mas eu acredito que as mentalidades vão mudar, não quero passar a minha vida a viver em pleno só dentro de 4 paredes, não vou reprimir o meu amor e o meu carinho pela Tenshi para quando estivermos sozinhas, nem pensar, acho que chega uma certa altura em que devemos lutar por nós, independentemente de termos medo ou não, afinal de contas nunca seremos verdadeiramente felizes se não o fizermos.

bju pa vcs*

Unknown disse...

Faço em quase tudo minhas as palavras da Tear...Só não posso concondar com voces quando dizem que acreditam que as coisas vão mudar...

A minha realidade e experiencia de vida dizem exactamente o contrario;existem algumas mudanças esporádicas, mas nada de significativo, não vivo com o tal "medo",assumo o que sou para os que me sao importantes e penso que dado isto os restantes deviam ter algum respeito,mas não.

Como a Tear disse no meu percurso académico tudo tranquilo, assumi o que sou e nunca tive qualquer retaliação.

o que me preocupa e me impede de ter uma impressão positiva em relação à sociedade é exactamente o meu trabalho, sei que no instante em que me assumir tou fora(embora isto seja punido por lei as entidades patronais sabem sempre como contornar,encontrar uma justa causa que nada tem a ver). Trabalho diariamente com pessoas vitimas de preconceito,de discriminação(não em termos de orientação sexual) e lá no sitio luta-se activamente contra tudo que discrimine e o que a mim mais me revolta é que nem as pessoas "estudadas" nem as que são discriminadas diariamente stem noção que são as primeiras a falar mal dos Homossexuias, todos pa fogueira...é muito triste, ate pq a instituição ja venceu varios premios de cidadania,igualde e afins,reconhecida por altas patentes...tudo treta pa ingles ver!!

Não fui educada para dicriminar, nem os meus principios e valores vao nesse sentido...mas a verdade é que somos minoria, e nao me parece que mude,por muito que gostasse...

calo-me por aqui para não maçar ninguém...lol

Anónimo disse...

Pois, eu percebo essa perspectiva mais pessimista...

Mas não concordo. Nem que quisesse, não posso!

Se eu deixasse de acreditar que um dia isto vai mesmo mudar e que a evolução da nossa população (ainda que extremamente lenta) é no sentido da maior tolerância, tudo o que eu faço, estudo e eventualmente um dia trabalharei deixaria de fazer sentido...

As mudanças não passam só por assumir em locais de trabalho e andar a empunhar a espada a toda a hora. Mas muitas vezes é nos gestos mais subtis. E tu que foste professora deves saber muito melhor do que eu que se fores passando a mensagem devagarinho e subtilmente, as mudanças depois vão acontecendo aos poucos!
Pelo menos tenho de acreditar nisto. É uma questão de necessidade! ;)

Como dizia aí num blog por onde andei:

Hay los que luchan un día
y son buenos,
hay otros que luchan un año
y son mejores,
hay quienes luchan muchos años
y son muy buenos,
pero hay los que luchan toda la vida,
esos son los imprescindibles.



Bertolt Brecht


;)

*bj p/2*

Unknown disse...

Embora possa parecer contraditorio,não deixas de ter toda a razão...as mudanças acabam por ser lentas e graduais, e esta será uma delas...

Talvez eu já não esteja cá quando isso acontecer mas entretanto espero que fiquem boas perspectivas para aqueles que nos vão sucesser (meu deus, pareço uma velhota!!).

o meu descrédito vai mesmo para quem tem o dever de actuar e não o faz, porque sei que entre as camadas mais novitas já se vão modificando mentalidades e já não veem a homossexualidade como doença,o que pode perspectivar-se como algo positivo...